2006/04/26

Para que dizem os canalhas.......

Mais uma vez, notícias abalam as protegidas castas superiores. Mais uma vez, o que é corriqueiro para alguns, torna-se motivo de espanto, medo e especulação por parte de outros. Era mais ou menos quando algum programa rural ou de turismo, de alguma concessão local de Tv, resolvia fazer um programa em algum lugar na cidade onde eu morava. Nunca nos víamos na televisão. Não vemos o trânsito na avenida pela qual acabamos de passar. Nem passamos diariamente pela loja que anuncia uma promoção, nem mesmo aquelas que se espalham como pragas naturalizadas, da série Casas Bahia. Tínhamos um jornaleco que saía a cada 15 dias com nove páginas, sendo duas ou três de editais da prefeitura. Nos víamos muito pouco pelos olhos dos outros.
Certa vez resolveram filmar uma pedra, conferindo-lhe o status de turística, uma das grandes belezas da região. Era a pedra do elefante, onde eu já tinha ido algumas vezes por motivos de força maior, de forma objetiva, para fugir da moral ou da polícia. E não é que a tal pedra, que eu nem achava que parecia um elefante, com uma simples aparecidela na globo local se tornou celebridade? Passei anos ouvindo que ninguém entendia porque ela se chamava “elefante” (como uma outra era a da tartaruga). Porque salvo algumas exceções, a grande maioria nem sabia direito o que era, nem achava parecida com elefante, e pouco se importava com isso. Queriam mais e que a pedra se explodisse. E depois da matéria, todos a tinham como parte da família. Discutia-se sobre a pedra. Sobre sua aparência e proximidade de traços com o elefante. De uma hora para outra se repetia o discurso de que a cidade tinha, certamente, uma pedra em forma de elefante.
Tá, admito, ela tem algumas formas arredondadas que com algum esforço, lembram um mamífero ancudo e grande. Mas são alguns poucos traços, exceções que criaram a lei e regra incontestável de que é obrigatoriamente um elefante.
Pedras a parte, lembrei dessa bobagem toda por conta de uma história triste e rotineira em algumas realidades distantes de alguns mundinhos: o estupro de uma garota na USP. Primeiro, esse absurdo acontece todos os dias em todos os lugares, mas precisa ter visibilidade social, em um lugar feito para poucos eleitos para que se torne um problema. Segundo, de acordo o que diz a garota, ela precisou convencer os guardas universitários de que não era uma louca putana fugindo de alguma suposta orgia mal resolvida. É assim que somos vistas pelos outros. Ela poderia realmente estar mentindo, mas esta teria que ser a última hipótese a ser levantada, porque a regra é a violência.
Dessa forma, precisamos da bênção de canalhas da imprensa para que nossas lutas se tornem sérias e para que não sejamos tratadas como exceções esquizofrênicas. O que é mais óbvio quando uma menina aparece em estado de choque semi-nua afirmando que foi estuprada? Que ela esta mentindo, claro. Mas quando a imprensa se utiliza da tristeza para disseminar o medo e justificar o aumento da repressão para com a parcela da população tida como suspeita, então o elefante aparece. Entendemos suas formas e o vemos como tal. Antes era apenas uma pedra, assim como a garota poderia ter se tornado mais uma lenda da tradição de loucos cruspianos. E dessa forma, passamos a repetir o que dizem os canalhas. Deixamos de pensar o que pensam os canalhas fascistas e machistas para se defender o que diz a mídia sensacionalista que pouco se importa com os sofrimentos cotidianos.
Dane-se se a pedra é ou não é um elefante, o fato é que ela existe. Pouco me importa se a garota estava mentindo ou não, e torço muito para que ela estivesse. Mas o senso comum se alimenta o tempo todo do que dizem os canalhas, que poderiam ter divulgado uma outra versão, e daí? Passariam todos a dizer que a violência sexual é uma histeria coletiva de mulheres loucas e mal amadas?
Somos julgadas pela exceção ou utilizadas como seres frágeis vitimizadas pela violência generalizada que se concretiza de forma específica, mas praticada pelo mesmo tipo de bandido bárbaro que assalta condomínios em bairros de luxo,e que geralmente tem entre 25 e 30 anos, é alto e negro. Quando se sabe que grande parte da violência ocorre dentro de casa, que as vitimas sofrem em mãos conhecidas.... e aí, que policia resolve isso? Quem vai convencer a todos que se trata de um elefante, quando ele sempre esteve ali, ninguém nunca olhou muito pra ele, e, além disso, está praticamente no seu quintal?
(catchola)

2006/04/24

Santo Futebol


Era para sair no Futebol e Resistência, mas as vândalas passaram antes...

Gentê, até que é legal ver esses argentininhos com uma referência não exclusivamente masculina para o futebol...

Se bem que pairam dúvidas se Evita, enquanto "santa", ainda era mulher...

ou melhor...

em jogo que todas as mães são putas... só sendo santa. (aline)

Valeu Bia! Manda mais!!!

2006/04/03

Teatro da oprimida

Era uma oficina de Teatro do Oprimido para educadores.
Acostumados a serem os animadores das platéias que se enfileiram nas salas de aula, àquelas pessoas coube a difícil tarefa de representar situações de opressão.
A situação preferida desses educadores era a da própria sala de aula: em algumas cenas tornavam-se eles próprios – professores autoritários, em outras se divertiam no papel de alunos baderneiros.
As imagens de opressão vinculadas ao ambiente escolar brotavam uma a uma e todos pareciam se sentir bem vivenciando aquela violência. Riam muito.
Mas alguém propôs a representação de uma cena onde uma mulher apanhava.
Durante alguns minutos alguns conseguiram ao menos parar de rir, algumas mulheres prontificaram-se em esclarecer que aquela situação nada tinha a ver com elas e, por isso, não poderiam representá-la.
Depois foi só silêncio, até que uma outra mulher se levantou e disse:
–Eu faço a cena. Sou eu a mulher que apanha.
Alguns continuaram em silêncio. Outros choraram...

(aline)