2006/11/06

O livro dos prazeres

Pras minina amiga minha... quando li pensei muito... é um trecho do livro da Clarice - Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres.
Espero que gostem...
Beijos da Aline

Ulisses ouvira de testa franzida. E depois dissera:
- E então você não quis mais nada disso. E parou com a possibilidade de dor, o que nunca se faz impunemente. Apenas parou e nada encontrou além disso. Eu não digo que eu tenha muito, mas tenho a procura intensa e uma esperança violenta. Não sou sua voz baixa e doce. E eu não choro, se for preciso um dia eu grito, Lóri. Estou em plena luta e muito mais perto do que se chama de pobre vitória humana do que você, mas é vitória. Eu já poderia ter você com meu corpo e minha alma. Esperarei nem que sejam anos que você também tenha corpo-alma para amar. Nós ainda somos moços, podemos perder algum tempo sem perder a vida inteira. Mas olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar do que realmente importa é considerado uma gafe. Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer “pelos menos não fui tolo” e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando estivéssemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temos-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos vitória nossa de cada dia. Mas eu escapei disso, Lóri, escapei com a ferocidade com que se escapa da peste, Lóri, e esperarei você também estar mais pronta.

5 Comments:

Blogger Cathola said...

Sabia minina Aline...a Clarice só confirma teus sempre belos e animadores conselhos. Afinal, e parafraseando o poeta, se não fosse ele, que graça que avida tinha...
Beijocas para todas nosotras...

7:08 PM  
Blogger jubs said...

Line, estou lendo O Livro Dos Prazeres! Mas ainda estou no comecinho..
Beijo

12:53 PM  
Blogger jubs said...

li oito páginas e cheguei...

12:51 AM  
Anonymous Anônimo said...

meninas, aline ...
me sinto até mal de não frequentar esse blog afinal ele dá continuidade pra um bagulho que eu gostava muito de dividir com vcs, o bom da vida é que nunca é tarde...
será que alguem vai ler isso???
beijos ticas

3:01 PM  
Anonymous Anônimo said...

Renatinha!! Li sim!

Se quiser colocar algum texto manda em um e-mail pro nosotras que alguém publica.

Beijão, bom te ver por aqui!

5:43 PM  

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