2006/06/05

Sem-terrinha em ação


Quando cheguei à Secretaria de Justiça já procurei por ele. “O Gabriel está aqui?”. Mostraram-me o menino-quase-neném dormindo num saco de dormir estendido sobre o chão de mármore que mais parecia de gelo.
“O Gabriel sofreu uma baixa.” – Correndo pelo “palácio” que não foi feito para crianças - bateu a cabeça em uma quina das pilastras. Doeu, sangrou e ele estava dormindo com um curativinho ao lado do olho.
Daí a pouco ele acordou, lembrou onde estava, sentiu seu machucado e chorou pedindo pela mãe. O curativo vazou. As mães improvisadas cuidaram em limpar o machucado, pegá-lo no colo e dizer que a mãe já vinha – daí a pouquinho.
Mas era mentira. Mentira necessária para crianças-sem-terrinha. Sua mãe ainda ficaria umas 4 horas numa reunião para exigir que o acampamento Irmã Alberta torne-se definitivamente um assentamento de reforma agrária.
Enquanto negociavam com a secretária de Justiça, os outros sem-terra cantavam, rezavam e gritavam para que os que passassem na rua ou trabalhassem ali lembrassem da sua existência, da sua luta.
No fim do dia-expediente a reunião acabou e, pelas caras dos que desciam, dava para ver que a boa notícia ainda não tinha chegado. Irmã Alberta estava séria, a mãe do Gabriel também. Vinham comunicar aos que esperavam que os quatro anos de luta ainda não foram suficientes para a conquista daquela terra. É preciso esperar mais.
Gabriel já tinha cansado de chorar há muitas horas atrás. Já tinha voltado a brincar e depois se aninhou no colo do pai. Quando sua mãe desceu ele ainda esperou que ela dissesse a todos o que se passou.
Quando eu ia embora olhei para os dois, estavam rindo – ele contando coisinhas de amor para a mãe.
(aline)

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Ai Alininha...que bom no meio de tanta coisa ruim, de uma gripe, de uma tristeza descabida que vem sei la de onde, ler algo bonito que faz a gente pensar que a vida é mais que tudo isso. Lindo texto...beijocas

10:38 AM  
Anonymous Anônimo said...

Tod@s somos Grabriel.

12:49 PM  

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