2006/05/22

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Carregou.
Foi embora, pelo caminho mais longe. Ainda tinha o tal cadáver nas costas.
Estupefação.
Precisava estudar, ler um pouco. Tirar essas caraminholas da cabeça. Tinha tanta coisa pra pensar, mais um monte pra fazer. Não conseguia. Qualquer barulhinho dispersava sua atenção. Esperava alguma coisa que não vinha. Não viria. Sabia disso, né? Não queria acreditar. E esperava, esperava, esperava... Esperava o quê? Sei lá!
- Preciso? Quero, desejo, muito. Tô triste, carente, diferente. Menos doce, bastante agressiva, sem controle. De emoções e atos. Tipo mulher braba mesmo. Tô assim, confusa. Tudo nebuloso, mó estranho.
Te vira nêga! Fazia eco...
Tinha muito sono, não tava cansada, mas a sensação era de que ia apagar a qualquer instante.
Faz frio e o barulho é distante e baixo.
- Adoro a vista que se tem daqui. Não é bonita, não é de encher os olhos, não tem nada de especial, só gosto. Fico olhando as janelas dos apartamentos, cheias de roupas, plantas...
Sonhava, quase todas as noites. Um monte de bobagem. Pra quê ficar tão inquieta? Pq a cabeça não parava quieta? Tudo era só arrogância e futilidade. Irritação por conta de desejos demasiado contidos.
- Que maluco trouxa!
Sono. Muito.
- Queria resolver isso tudo. Criar umas certezas e me agarrar. Que bosta! Quero chorar e choro. Dane-se! Pq não me dá um fora? Diz assim: Legal, foi bom, mó delicia. Mas foi! Já era! A gente se vê qualquer dia. Tchau! Daí era só curar as pernas quebradas... Estou cheia destes malditos sentimentos que nunca vão embora. O coração parece querer pular de dentro do peito. Chega! Sai, porra! Tô cansada!
Esvaziou o copo, destrancou a porta, deitou e dormiu.

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