2006/03/16

119C - Vila Sabrina/Term. Princesa Isabel

Sentido Vila Sabrina - Antes das seis da manhã só andam pela rua os estudantes, ou os operários. Não andam, zumbizam nos pontos de ônibus a espera da condução. Não é a primeira do dia, e nem a última.
O Terminal Princesa Isabel ferve, todos correm entre as passarelas, incrivelmente os ônibus esperam os pedestres que não podem perder os ônibus por segundos, quinze minutos de atraso são descontados no ponto, penso eu, ele e ela.
Qualquer segundo entre as 6:15 e as 6:17 o ônibus sai lentamente do terminal. O motorista sabe que não vai chegar mais ninguém, pois um ônibus as seis da manhã é uma comunidade.
Aqui estão as que vão sempre sentadas, moças todas, trabalhadoras de confecção. Pegam este ônibus para chegar as 6:50 no Pari, e sentar dez minutos pelo menos, para depois encarar 10 horas de trabalho, em pé. Quem me disse? A primeira moça que sentou ao meu lado, no primeiro dia. Dez horas é pra compensar o sábado.
Todos se seguram, o ônibus para bruscamente no cruzamento, o corpo está automatizado pela rotina, já sabe do tranco. Depois de feita a volta no terminal, farol da Avenida Rio Branco. Cruzam pela faixa mulheres com crianças e bebês dormindo no colo, vão para a creche dormindo.
Cruza a Rio Branco, largo do Coração de Jesus, passa atrás da Estação Júlio Prestes, dá a volta na Praça Mauá e lá o pessoal está acordando. Sobe um monte de gente, agora são os moços, de pé, com sacolas. Você quer que eu segure? Não precisa.
Circunda a Praça Mauá, cruza o viaduto do trem e chega no Parque da Luz, já aberto. Freiras e mulheres coreanas caminham, todas velhas. Olho todos os dias para a copa das árvores para ver se encontro as preguiças.
Dá a volta no Parque da Luz, passa ao lado do Liceo e atravessa a Avenida Tiradentes. Ali tem o castelo amarelo de um lado com um cheirinho de cavalos com esgoto. É só bem cedo que dá pra sentir este cheiro de verdade!
Anda um pouco, vira a direita, vira a esquerda, rua São Caetano. Lojas de máquinas de costura e uma outra de manequins. Exposto na marquise da loja um modelo de moça jovem, com os seios de plásticos pretos de poluição. È uma cena que me entristece toda vez. Não deixa essa imagem de mulher aí, desse jeito.
Um pouco pra lá as ruas tem a cara do centro velho mesmo. Pensões, porões adaptados como casa, muito lixo na rua, roupas nas janelas, gaviões pixado no muro, só os botecos abertos.
Vira a esquerda, uma visão. A Mesquita do Brás! Surreal com minaretes e mosaicos e cerca eletrificada. Depois, o centro comercial do Pari, estacionamento para ônibus, feira da madrugada, várias mulheres andando em busca de roupas para revender. São 6:30 da manhã.
Á direita, o bairro do Pari, com igreja, pracinha e tudo. À esquerda Rua Rio Bonito, estamos quase chegando. Na esquina, todas as moças descem. São ali as confecções.
À esquerda de novo e cruzamos a ponte do Rio Tietê. Todo mundo se segura de novo, agora vai correr, vento na cara e acorda. Está chegando o seu ponto.

A Sabrina mesmo, eu ainda não cheguei a conhecer.