2007/01/19

Fumando salgadinho e comendo bituca (da série tia zona style)

Pela primeira vez em duas semanas, estivemos na Argentina. Uma casa rota, à luz de vela, um só comodo para abrigar o tango reproduzido na vitrola esquecida eduas garrafas de concha y toro por quinze pesos cada.
Até entao, a melancolia como parte do ser argentino parecia nao passar de um mito forjado superficialmente nos dancarinos que maquinalmente exibiam as passadas do tango pelas ruas turísticas. Nao se sente a musica chororosa com a danca profundamente sensual. O tango e toda a tristeza tranquila, para dentro, e que invade tudo marejando os olhos de saudades, passa a ser meramente uma tradicao caricata.
No entanto nessa casa, até o homem que parecia o dono do lugar tinha um sorriso triste e tranquilo como de quem vivera tudo isso por uns trezentos e cinquenta anos. Mas só foram trinta.
O lugar era escuro e na penumbra dos olhos do velho parecia estar toda a Argentina. Cansada, antiga, mae. Mae de ventre rebelde. Os rebentos dela gritam, choram e esperneiam pelas ruas do Retiro e pela terra pisada de La Matanza: No chao, a marca do pneu queimado em plena Avenida de Mayo. E um rosto familiar pichado no muro.
De repente, o tango deu lugar ao Pink Floyd. E nos lembrou o que eramos, imersos naquele ar de que tudo ja estava feito, lembramos que apesar de termos vivido nos últimos dias como jovens senhoras e que o bar era apenas o cenário de um jeito peculiar de estar aqui. Lembramos que nao eramos pessoas de 40 anos como estavamos nos sentindo em diversos momentos. Na quase escuridao do quintalem que mal se via as pessoas da mesa ao lado:
- Julia, acho que você bateu a cinza na batatinha.
Era um salgadinho servido em um potinho parecido com o cinzeiro. Salgadinho com cinza. Mais adiante, na mesa de espirito geriátrico, Cássia, a velhinha já caduca e esquecida...
- Puts que merda, comi a bituca.
Cuspindo um salgadinho de filtro amarelo.
Nesse momento, sentinos culpa por nao participarmos mais do movimento estudantil.
Catchola e Juju
-Clínica de Recuperacao com turismo político
2 semanas =
-1 ressaca
-0 drogas pesadas
-6 e meio baseados
-25 carteiras de cigarro
-12 horas de sono diários
-1 hostel de hippies que acham que a gente é careta.

2 Comments:

Blogger Flávia Santos said...

boa narrativa!

1:30 PM  
Blogger Unknown said...

Ja tinha amado essa historia com vc contando,escrito dessa maneira ficou ainda melhor...Te amo neguinha...Vc me inspira.

6:18 PM  

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